sábado, 23 de agosto de 2008

Saneamento Básico - O Filme


Sensacional filme de Jorge Furtado (Meu Tio Matou Um Cara, O Homem Que Copiava e Houve Uma Vez Dois Verões), que consegue retratar em “um simples” filme toda a complexidade em se fazer cinema no Brasil, um filme que não fala apenas de cinema e sim dos sonhos, da corrupção do sistema governamental, da pureza das pessoas que lutam por seus direitos, assim é Saneamento Básico.

Na comunidade da Linha Cristal, uma pequena vila de descendentes de colonos italianos na serra gaúcha, reúne-se para tomar providências sobre a construção de uma fossa (ou fosso) para o tratamento do esgoto. Uma comissão é escolhida para pleitear a obra junto à sub prefeitura. Após ouvir a reivindicação, a secretária da prefeitura reconhece a legitimidade da solicitação, mas afirma que não dispõe de verbas para obras de saneamento básico até o final do ano. No entanto, a prefeitura tem quase dez mil em verbas para a produção de um vídeo. A verba veio do governo federal e, se não for gasta, terá que ser devolvida. A comunidade decide então fazer um vídeo sobre a obra. A prefeitura apóia a idéia da realização do vídeo e da utilização da verba para a obra, que seria um absurdo devolver, mas esclarece que, para requerer a verba, a comunidade deve apresentar um roteiro e um projeto do vídeo, e que a verba era necessariamente para obras de ficção. Os moradores da Linha Cristal passam então a fazer um vídeo de ficção que, segundo interpretações, é um filme de monstro, ambientado nas obras de construção de uma fossa, com o único objetivo de usar a verba para as obras. O que eles não esperavam é que a produção do vídeo fosse se tornando cada vez mais complexa e interessante.

Com um elenco de grandes atores nacionais como Lázaro Ramos, Fernanda Montenegro, Wagner Moura, Camila Pitanga, Bruno Garcia, Paulo José e Tonico Pereira, o diretor Jorge Furtado consegue de uma maneira divertida mostrar como é difícil fazer com que seus direitos como cidadãos sejam cumpridos, o desleixo das autoridades as condições básicas de moradia a população são mostrados na incapacidade (boa vontade) de uma prefeitura em criar uma fossa e como esses mesmos despreocupados governantes se aproveitam para ganhar prestigio posando como criadores do feito após o trabalho duro dos moradores da vila.

A simplicidade dos moradores em criar um filme de “ficção” para conseguir o dinheiro necessário para a criação da fossa é fascinante, são como ingênuos jovens idealistas querendo fazer arte e mesmo com poucos recursos tanto financeiros como de bagagem cultural conseguem financiadores para o filme (qualquer semelhança com o cinema nacional é mera coincidência) o apelo comercial posto na parte da edição também mostra que o cinema não sobrevive só de ideais e dividir os louros com os mesmos despreocupados do inicio talvez ajude futuramente, pois fica evidente o jogo de interesse após a conclusão do filme.

Cuidado ao assistir, pois as sutilezas das alfinetadas não poupam ninguém, se você se sentir atingido, primeiro ria, depois reflita...

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