terça-feira, 12 de agosto de 2008

Nouvelle Vague parte 9

Os Autores - François Truffaut


É difícil dizer qual o maior nome da Nouvelle Vague. A tendência normalmente faz recair o título em Jean-Luc Godard, por tudo o que ele representou na exploração das fronteiras da linguagem cinematográfica. Mas como este ensaio também tem o seu que de pessoal, a escolha recai em Truffaut.
Depois de uma infância conturbada,
Truffaut é recolhido por Bazin, que se torna seu protetor e o coloca a escrever nos Cahiers. Por essa altura já o jovem vivia praticamente na Cinematheque Française, tendo chegado aos 25 anos com quase 3000 filmes vistos. Esta bagagem, que mais nenhum outro critico de cinema da época tinha, trouxe-lhe imenso prestigio e à vontade para criticar o cinema francês da época – Une Certaine Tendance du Cinema Française – mas também de elogiar o cinema de autor europeu e norte-americano – Ali Baba et La Politique dês Auteurs. O seu trabalho como critico tornou-o na principal figura do movimento, e o seu filme de estreia, Os Incompreendidos, abriu a Nouvelle Vague em estilo, com uma notável prestação em Cannes. A partir daí Truffaut não seria apenas um realizador de grandes filmes, alguns com mais sucesso que outros. Seria também produtor de muitos dos trabalhos da Nouvelle Vague, e uma das figuras mais importantes na história do cinema francês. A sua morte precoce em 1984 impediu-o de continuar o trabalho que tinha vindo elaborando desde 1968, numa abordagem muito mais pessoal do cinema.


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Os Autores - Jean-Luc Godard


Se a Nouvelle Vague fosse apenas o período da produção cinematográfica, e não um vasto movimento que tem início nos anos 50 com o aparecimento dos Cahiers, então a figura de proa seria Godard.
Como critico não foi tão incisivo como alguns dos seus colegas, apesar de ter assinado alguns dos mais belos textos escritos à época sobre cinema como
SuperMan. Mas como realizador foi um autor que não conhecimento limites na sua ânsia de explorar todos os caminhos que o cinema lhe proporcionava. De Acossado a O Demônio das Onze Horas, passando pela sua fase mais radical, ao que se juntou mais tarde o trabalho televisivo, Godard fez de tudo um pouco, e por isso granjeou adeptos e inimigos um pouco por todo o lado. Hoje é o maior mito vivo do cinema francês, mas apesar de tudo o seu período áureo continua a ser o dos dias de glória de um movimento que ele ajudou a criar e a desmembrar, curiosamente.


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Os Autores - Alain Resnais


Sempre esteve um pouco ao largo do movimento, mas está-lhe associado de forma natural. Ao contrário dos seus camaradas, não começou na redação dos Cahiers ou na Cinematheque. Freqüentou o IDHEC, trabalhou com Agnes Varda, fez parceria com Chris Marker, e passou os anos 50 a explorar em curtas-metragens e documentários, o seu tema de eleição: a memória humana. Foi esse o mesmo tema que serviu de base aos seus grandes sucessos Hiroshima Meu Amor e Ano Passado em Marienbad, filmes que fizeram dele uma figura consensual no panorama cinematográfico, e que ajudaram a confirmá-lo como um verdadeiro poeta-visual. Depois do desastre de Muriel, dedicou-se a um cinema mais intimista, longe das grandes salas e das grandes produções.


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Os Autores - Claude Chabrol


Também ele começou como critico de cinema nos Cahiers, e também ele foi um dos indefectíveis do movimento dos Hitchcock-Hawksianos. Depois da sua formação cinematográfica se ter feito em torno destes autores, aos quais irá juntar o cinema de Fritz Lang, o jovem Chabrol foi o primeiro critico a partir para a aventura como realizador, graças a uma herança providencial. Os seus primeiros trabalhos – Um Vinho Difícil e Les Cousins – espelham o seu amor pelo suspense, pelos espaços abertas da Província francesa, e por um tom muito sóbrio. Depois de passar a década de 60 um pouco desorientado, é no pós-Maio de 68 que se reencontra, fazendo uma série de filmes de sucesso até meados dos anos 70, altura em que irá explorar o cinema na televisão, como tantos outros autores seus contemporâneos.


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Os Autores - Jacques Rivette


Inevitavelmente dividiu os seus dias entre os Cahiers e a Cinematheque, formando-se assim, como os seus colegas, num ambiente puramente cinematográfico. Os seus primeiros passos como realizador tiveram lugar em 1960, data de estreia de Paris Nos Pertence, belíssimo filme, que o consagra como um dos grandes valores do movimento. Diretor dos Cahiers nos anos 60 e figura fulcral do movimento, a sua produção cinematográfica não terá o mesmo desenvolvimento que se esperaria, sendo que A Religiosa ajudou a quebrar alguns tabus em meados dos anos 60. Mais tarde encontrará na televisão um refúgio natural.


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Os Autores - Eric Rohmer


Foi o primeiro dos jovens críticos a passar a diretor dos Cahiers, após a morte de André Bazin. Sempre foi visto mais como critico do que propriamente como realizador durante os dias áureos da Nouvelle Vague, onde não apresentou nenhum filme de grande impacto. Curiosamente seria o nome mais em voga durante os anos 70, e hoje é ainda um dos elementos mais prolíferos e apreciados do movimento. Um reconhecimento tardio do seu estilo algo bucólico e extremamente sóbrio, que nos anos agitados da década de 60 parecia completamente despropositado para os jovens cinéfilos.


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continua...

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