segunda-feira, 17 de novembro de 2008

História do Rock no Cinema – parte 16: Punks

O primeiro filme de ficção que pode ser chamado de punk, não só no visual mas também nos ideais, foi o britânico Jubilee, dirigido por Derek Jarman em 1977. Inicia com a rainha Elisabeth I numa viagem no tempo do século 16 até ao final dos anos 1970, quando encontra a Inglaterra imersa na anarquia, com violência reinando nas ruas e o Palácio de Buckingham como um estúdio para gravação de bandas punk. A estrutura do filme é episódica e mostra um grupo de niilistas em diversas situações. Há participações de Adam Ant dois anos antes de se tornar um cantor de sucesso e da banda Siouxsie & The Banshees em início de carreira. A trilha sonora ficou a cargo de Brian Eno.

Bandas nas telas

Roger Corman, o lendário diretor e produtor de filmes B, não poderia deixar de faturar alguns trocados com o gosto musical dos jovens. Resolveu atacar como produtor e, em 1979, concebeu um filme que se passava numa escola e tinha a música como tema central. O título deveria ser Disco High. Sim, seria sobre disco music. Por sorte, alguém o convenceu a utilizar o rock e o filme virou Rock ‘n’ Roll High School (alguns outros títulos foram considerados antes de se chegar a esse). Vários nomes foram cogitados para estrelar a parte musical do filme, entre eles Todd Rundgren, Cheap Trick, Tom Petty, Devo e Van Halen. Num dado momento, os Ramones foram sugeridos e acabaram escolhidos. Para dirigir o filme, foi contratado Allan Arkush, que ficou doente no final das filmagens e foi substituído por Joe Dante. Conta a história de uma garota grande fã dos Ramones e quer mostrar a letra que compôs para o grupo. Na sua escola, a nova diretora reprime o interesse dos alunos pelo rock. A banda aparece tocando várias músicas e ainda há vários outros astros na trilha sonora, como Chuck Berry, Devo, MC5, Brian Eno e Alice Cooper. É um filme muito divertido, que se tornou cult e influenciou inúmeros filmes escolares da década de 80. Essencial para qualquer um que goste de Ramones, mas infelizmente ainda não foi lançado em DVD no Brasil. Há uma continuação, de 1990, chamada Rock ‘n’ Roll High School Forever, mas nem chega perto do espírito do original.

Outra banda que estrelou um filme foi o The Clash em Rude Boy, de 1980, dirigido por Jack Hazan e David Mingay. É um semidocumentário sobre um rapaz que se torna roadie da banda. A história dele é ficção, os shows do The Clash são reais e as manifestações públicas também. O resultado final não agradou a banda, a parte ficcional é bem amadora, sendo que a produção nem circulou muito fora da Inglaterra. Só recentemente chegou em solo americano no formato DVD e tem uma opção no menu para ver somente as apresentações da banda, o que realmente interessa no filme.

Richard Hell é considerado um dos primeiros punks, foi baixista do Television e depois montou sua própria banda, o Richard Hell and The Voidoids, que lançou a canção "Blank Generation", um dos hinos de sua época. Esse é o mesmo título de um filme de 1980 dirigido pelo alemão Ulli Lommel. (Não confunda com The Blank Generation, média metragem de 1976.) A produção estrelada por Richard Hell, que também assina o roteiro, conta a história de uma jornalista francesa que se envolve com um astro punk. O diretor inspirou-se no filmes de Godard, com cortes abruptos e digressões sobre algum assunto, talvez por isso não tenha sido bem aceito na época. Desperta a curiosidade pelas cenas no CBGB, por mostrar a imagem que os punks tinham de si próprios e para ver o baterista dos Voidoids, Mark Bell, que depois se tornaria Marky Ramone.

Também existiam garotas que formavam bandas punks, é o que mostra o filme canadense Ladies and Gentlemen, The Fabulous Stains, dirigido por Lou Adler em 1981. Estrelado pelas jovens Diane Lane e Laura Dern, tem a participação de Steve Jones, Paul Cook, ambos do Sex Pistols, e Paul Simonon, do The Clash. O filme teve um lançamento pequeno nos cinemas e só encontrou seu público mesmo alguns anos depois, na televisão a cabo. Permanece inédito em DVD.

Filmes de Alex Cox

Alex Cox é um diretor britânico que expressou sua simpatia pelo punk em alguns de seus filmes. O primeiro foi Repo Man – A Onda Punk, de 1984, estrelado por Emilio Estevez, conta a história de um jovem punk que consegue um emprego como “repossesion man”, a pessoa encarregada de recuperar carros cujos compradores não pagaram suas prestações. A aventura segue quando recupera um carro com uma estranha maleta no porta-malas e é perseguido por alienígenas. Integrantes da banda Circle Jerks aparecem em pequenos papéis e participam da trilha sonora, que também inclui Suicidal Tendencies, Black Flag e Iggy Pop cantando a faixa-título.

No seu filme seguinte, Cox mergulhou de vez no punk ao contar a história do trágico romance entre Sid Vicious e Nancy Spungen. Ao invés de retratar de forma realista o baixista do Sex Pistols, preferiu foi colocar na tela a imagem pública e as lendas a respeito dele em Sid & Nancy – O Amor Mata, lançado em 1986. Tudo que se pensa a respeito do casal está no filme, que não se preocupa com a fidelidade a fatos históricos. Gary Oldman “incorpora” Sid Vicious de forma muito convincente e até canta algumas canções na trilha sonora. Estão presentes na trilha Joe Strummer, The Pogues e Circle Jerks, mas não há nenhuma canção do Sex Pistols ou de Sid Vicious. Para o papel de Nancy, várias atrizes foram testadas, entre elas estava a jovem Courtney Love que impressionou bastante o diretor, mas os investidores queriam uma atriz com mais experiência e a escolhida foi Chloe Webb, que se saiu bem no papel. Como consolação, Courtney ganhou o papel de uma das amigas junkies de Nancy. O filme foi execrado por John Lydon (ou Johnny Rotten, vocalista dos Pistols), que disse que era somente uma fantasia sobre a vida de Sid Vicious e que apresentava inúmeros erros. Quando perguntado se havia algo real no filme, Lydon respondeu: “Talvez o nome Sid”.

O trabalho seguinte de Alex Cox foi um faroeste chamado Straight to Hell, de 1987. Neste conseguiu escalar Courtney Love para papel principal e completando o elenco estão vários músicos: Joe Strummer, Elvis Costello e os integrantes das bandas Circle Jerks, The Pogues e Amazulu. Assim como a maioria dos filmes de Cox, a fita não foi bem recebida na época, mas teve seus fãs e não acabou esquecido. Alguns anos depois, Courtney Love formaria uma banda, conheceria Kurt Cobain e continuaria sua carreira no cinema, mas isso é uma história para ser contada mais para a frente.

Filmes sobre punks

Outra produção de Roger Corman, Suburbia, dirigida por Penelope Spheeris em 1984 (não confundir com subUrbia, de Richard Linklater), retrata um grupo de jovens punks que se rebelam contra suas famílias. A produção traz alguns músicos no elenco, como o jovem Flea, do Red Hot Chili Pepers, e a tem participação de bandas como T.S.O.L. e The Vandals.

A produtora Troma, responsável por diversos filmes B cheios de sangue e humor negro, lançou em 1996 uma versão punk de um clássico de Shakespeare com o título Tromeo and Juliet. Com uma história atualizada e carregada de violência e sexualidade, além de uma boa dose de irreverência, o filme é uma espécie de “clássico romântico” da produtora. O responsável pela narração da história é o Lemmy, do Motorhead.

Um bom registro sobre os punks foi feito em SLC Punk!, dirigido por James Merendino em 1998. Livremente baseado nas memórias do diretor, retrata a vida de jovens punks no meio da década de 80 em Salt Lake City, que não era um grande centro como outras cidades. O protagonista dirige-se várias vezes para a câmera apresentando personagens, situações e explicando seu ponto de vista com relação a vários conceitos. Seu grande amigo chama-se Heroin Bob, que não usa drogas e tem medo de agulhas. O cotidiano dos jovens é o foco dessa comédia dramática, como as festas, shows, amigos e brigas com outras tribos urbanas. A trilha sonora foi muito bem empregada e traz clássicos de The Stooges, Ramones, Velvet Underground, Dead Kennedys, The Specials e Blondie. É um filme divertido que merecia ser lançado no Brasil.

fonte: omelete

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